Texto por Mariana Matos e Rodrigo Nejm
No último semestre realizamos a leitura e discussão do livro “The Mediated Construction of Reality” – Nick Couldry e Andreas Hepp. Compartilhamos as resenhas dos capítulos feitas pelos pesquisadores do Gits.
INTRODUÇÃO
O capítulo inicia com a questão geral que norteará o conteúdo da obra: Como repensar o mundo social considerando que o social é construído do e pelos processos e infraestruturas de comunicação mediados tecnologicamente, por meio do que chamamos de “mídia”? Se nossa realidade é construída pelo processo social, quais as consequências para esta realidade se o próprio social é “mediado”, modelado e formado através das mídias?
O autor então levanta questões sobre “o social” na política e nas teorias, trazendo exemplos de
Durkheim (sociedade como fato social), Latour (ficção sobre arranjo dos humanos e não humanos) e o pós humanismo, ressaltando a necessidade de uma renovação da teoria social.
Ao levantar questões sobre “mídia”, nota-se que desde 2000s, ‘mídia’ é muito mais do que canais centralizados de distribuição de conteúdos. Tornaram-se espaços de “fazer” (enact) o social. Se os elementos básicos da vida social são agora potencialmente modelados pelas mídias, a teoria social deve repensar as implicações das “mídias” no termo básico: “o social”. Entende-se então que a teoria social é viável apenas se transformada pela teoria das mídias:
“The process of social construction can [. . .] only be analysed as a communicative process’ (Honneth, 1995, p. 58) e amparado em processo material de mediação que constitui muito do “social”.
Sewell também é citado, ressaltando que o social é sempre duplo: modo de conhecimento e ambiente construído, e a “mediatização” é compreendida como conceito chave para discutir transformações dos processos sociais e comunicacionais, não apenas como “lógica”, mas várias formas como as possíveis “ordenações” do social pelas mídias são transformadas e estabilizadas através de feedback loops.
O conceito de “figuração” das últimas obras de Norbert Elias são inspiradores para refletir sobre estas transformações. Outro ponto de análise concentra-se na crescente interdependência da socialidade on system – a crescente “institucionalização” do Self e da coletividade – é uma raiz que se afasta da vida social apontada por Simmel sobre a era da mídia moderna:
“the world of sociability [. . .] is an artificial world [. . .]. If now we have the conception that we enter into sociability purely as “human beings”, as that which we really are [. . .] it is because modern life is overburdened with objective content and material demands. (1971, p. 133)”
Em direção a uma fenomenologia materialista do mundo social, Raymond Williams (1980) é citado como quem traz o materialismo cultural como meio de inclusão tanto dos aspectos materiais quanto simbólicos das práticas cotidianas ao analisar a cultura como “o todo da vida”. Precisamos então considerar as mídias tanto quanto tecnologia com infraestruturas quanto processo de produção de sentidos. Com o termo “materialidade” destacam esta complexidade.
Sobre a fenomenologia do mundo social, acreditam que apesar da aparente complexidade, o social permanece algo acessível à interpretação e compreensão pelos atores humanos, e uma estrutura construída em parte por estas interpretações e entendimentos. É necessário então olhar atentamente para a infraestrutura material através da qual as comunicações ocorrem hoje, para além de apenas considerar como o mundo aparece para interpretação para atores sociais particulares, e repensar a construção social da realidade cotidiana na era digital, inspirado na obra de Berger e Luckmann.
No que tange a midiatização profunda , faz-se necessário entender como o social é construído na era da “midiatização profunda” quando os elementos básicos a partir dos quais um sentido de social é construído tornam-se eles mesmos baseados nos processo de mediação tecnológica.
O autor também dedica parte do capítulo introdutório para falar sobre suas inspirações: Ivan Illich – mudanças nos axiomas da concepção de espaço e realidade social nas relações mediadas pela escrita; Luhmann – “teoria dos sistemas”; Latour – críticas a noção moderna de “sociedade” como dada, McDowell / Giddens / Van Dijck e Norbert Elias – Segunda natureza, socialmente construída e compartilhada, “ordem figuracional”.
Trazendo o conceito defiguração como ferramenta conceitual para tratar os complexos problemas da interdependência de viver juntos em grande escala geram, como estes problemas acham soluções, entende-se que mudanças sociais são sempre, em parte, mudanças nos níveis de figuração.
O capítulo é finalizado com a descrição das partes das quais o livro se divide:
Parte I – construção social da realidade social com a midiatização profunda
Parte II – mediação social na experiência social: tempo, espaço e interações data-driven
Parte III – a agência em tempos de midiatização profunda